Por muitas vezes ouvi relatos de pessoas que meses ou até anos antes de chegarem até mim já haviam recebido de algum médico, seja psiquiatra ou ainda um clínico geral, além da prescrição de alguma medicação, também a indicação para psicoterapia. Acontece que essas pessoas só viriam a consultar uma psicóloga tanto tempo depois da indicação médica, quando alguma coisa em relação à medicação já não ia bem. Eles percebiam que a medicação não resolvia todos os seus problemas, e que mesmo depois de realizado o tratamento se sentiam inseguros com a possibilidade de uma nova crise, ou ainda se encontravam em um momento em que novas crises eram tão recorrentes que já faziam parte de sua vida cotidiana. Havia ainda aqueles em que as alterações de humor eram constantes e incomodavam fortemente, ou aqueles em que a medicação funcionava como uma espécie de anestésico que lhes tirava o brilho da vida. Isso, entre tantas outras percepções, relatos e sofrimento, muito sofrimento.

No entanto, esses discursos que chegavam até mim eram apenas uma pequena parcela, representavam somente uma pequena fatia do bolo. Imagine você quantas pessoas não estavam e não estão sendo beneficiadas pela psicologia exatamente porque não sabem de seus benefícios. E então, a partir disso, a pergunta que me fiz foi: como ajudar as pessoas a desfrutar do que a psicologia pode oferecer? Como alcançar as pessoas para além das portas do consultório?

Em uma tentativa de responder a tudo isso, me fiz ainda uma terceira pergunta: o que aconteceu para que aquelas pessoas, lá do início do texto, não chegassem até o profissional de psicologia mesmo com a indicação médica e continuassem em um ciclo de sofrimento?

Bom, eu já trabalhava com pessoas, suas histórias e, claro, seus sofrimentos. Meu exercício diário, de certa, forma era acolher. Uso essa palavra porque a psicoterapia se faz de um processo que é muito maior do que uma técnica aplicada pela psicóloga. A psicoterapia é uma ação de dois: na qual cabe ao terapeuta saber cooperar com o seu paciente em seu processo de amadurecimento pessoal, respeitando seu ritmo e trajetória.

Foi pensando em tudo isso e compreendendo que para tentar responder tantas indagações era preciso encarar a chegada das pessoas à psicoterapia como um processo, e que esse processo, por sua vez, está repleto de obstáculos; encarando a psicoterapia dessa maneira, e sabendo que alguém nesse momento, talvez você que me lê, possa estar passando por esse processo tortuoso, resolvi trazer esses alguns pontos básicos para você encarar e compreender de vez a psicoterapia. Vamos lá!

1. Talvez você não saiba de que se trata a psicoterapia e qual o profissional que oferta esse serviço

Muitas pessoas não sabem o que é psicoterapia e muito menos qual o profissional que está habilitado a ofertar este serviço. Aliás há inúmeras nomenclaturas dentro da saúde mental que às vezes nos confundem. Como é o caso da psicoterapia, terapia, análise, acompanhamento psicológico, entre outras. Há também muitas formas de terapias que não fazem parte da psicologia: são as terapias alternativas, como as terapias holísticas, florais, reiki, acupuntura, entre outras. Existem também, dentro da própria psicoterapia, diferentes abordagens, ou seja, diversas linhas teóricas que norteiam o trabalho do psicoterapeuta, como é o caso da abordagem psicanalítica, bem como da comportamental, da gestalt, da humanista, da fenomenologia, dentre muitas outras. Além, é claro, das diversas modalidades e configurações de atendimento, como as psicoterapias individuais, em grupo, de casal, de família, infantil, de bebês etc.

Porém, independente da abordagem e da modalidade, a psicoterapia é um serviço que só pode ser ofertado por um psicólogo formado, com registro no Conselho de Psicologia e em locais adequados para esse tipo de atendimento, seja presencial ou online, e por estudantes de psicologia dentro das clínicas-escolas das universidades.

 2. Algumas pessoas acreditam que psicoterapia não é para elas

Já ouvi de muitas pessoas e de muitas maneiras que a psicoterapia não é para elas: Acho que deve ser ótimo, mas não é para mim! Eu não sou louco para precisar ir ao psicólogo! Eu não tenho condições de pagar um atendimento, só rico que faz! Eu não tenho transtorno mental ou emocional para ir ao psicólogo, só não estou muito bem! Com certeza você já ouviu ou até mesmo disse algo parecido. Esses ainda são pensamentos comuns das pessoas em relação ao tratamento psicológico, porém não são verdades e é por isso que precisamos desmistificar o trabalho do psicoterapeuta, afinal você pode estar perdendo uma grande oportunidade por um mero preconceito. É evidente que a psicoterapia ainda não está ao alcance de toda a população, principalmente da população mais vulnerável. Infelizmente as políticas de saúde mental no Brasil carecem de muito investimento por parte do Estado.

O tratamento psicológico é destinado a qualquer pessoa, às que apresentam um sofrimento que tem se manifestado através de transtornos mentais ou emocionais, e às pessoas que, apesar de não terem nenhum diagnóstico, sentem a necessidade de uma ajuda para lidar com questões da vida que nem sempre são fáceis. Ou ainda às pessoas que desejam se conhecer mais, entender seus padrões de comportamento, lidar com as ansiedades, medos, desejos etc. Há ainda aquelas pessoas que estão passando por questões pontuais, momentos difíceis, como separação, luto, casamento, escolha profissional, novo relacionamento, crises no relacionamento, mudança de cidade, de emprego, de casa e assim vai, não existe uma regra única para buscar psicoterapia, mas sim o que você e só você sabe que está passando! E que sim, isso é de fato importante e merece atenção! Não caia nessa de que o seu sofrimento não é algo tão importante assim.

3. Os mitos e preconceitos em relação à psicoterapia estão te impedindo de buscar uma ajuda profissional.

Por a psicologia não ser uma ciência exata como a medicina, fisioterapia, enfermagem e tantas outras dentro da área da saúde, é rodeada por mitos e preconceitos que afastam muitas pessoas de buscarem uma vida melhor. Por que buscar um acompanhamento psicológico é tão difícil? Por que não é igual quando sentimos uma dor de dente e de imediato marcamos um dentista, por exemplo?

Através da minha experiência, suponho que muita dessa dificuldade está relacionada ao preconceito de que se você precisa da ajuda de um psicólogo é porque você é fraco, não consegue lidar com seus problemas sozinho. Isso a mais pura mentira! Na verdade, perceber que algo não está legal e ter o discernimento de buscar ajuda profissional é, na realidade, um ato de coragem, pois nem sempre é fácil olhar para algumas questões nossas que estão a há muito tempo “engavetadas” e que fingimos que não estão ali, mas sentimos os seus efeitos.

Outro mito que costumo ouvir sobre a psicoterapia, e que acredito que faça com que muitas pessoas não busquem um acompanhamento, é achar que o psicólogo vai decidir a sua vida por você, ou que você vai investir tempo e dinheiro para uma pessoa te ouvir e que você tem muitos amigos para isso! No primeiro caso, esse não é o papel do psicólogo. Ele não vai decidir o que você deve ou não fazer, não vai te dar ordens e nem organizar sua vida. O psicólogo vai ajudá-lo a compreender melhor seus pensamentos, suas atitudes e como você entende e age no ambiente em que vive. Acredite, o psicólogo não está ali para julgar, impor a sua opinião pessoal ou te convencer de qualquer coisa. E, no segundo caso, o psicólogo não é seu amigo! Credo! Como assim? Isso mesmo, o psicólogo é um profissional capacitado, que estudou no mínimo 5 anos para isso! Ele não está ali para conversar com você como se conversa entre amigos em uma mesa de bar, o que também é ótimo e não deixa de ter sua importância. Mas isso não é psicologia! A psicoterapia é um tratamento, um acompanhamento que demanda bastante do psicólogo em termos de capacitação, estudo, tempo, drinheiro e que também demanda do paciente! Como eu já havia mencionado, psicoterapia é trabalho de dois!

4. Possivelmente você não saiba como funciona a psicoterapia

Muitas pessoas confundem psicoterapia com o modelo médico, acreditam que em uma consulta já é possível traçar um diagnóstico e uma “receita” para resolver o problema detectado.

A psicoterapia é realizada por um profissional formado em psicologia, com registro no Conselho Regional de Psicologia. Mas isso só não basta para caracterizar um psicoterapeuta.

A psicoterapia é um “tratamento”, é um acompanhamento! Ela não tem o objetivo de diagnosticar uma doença, seja ela mental ou não, e curá-la do mesmo modo que acontece com as doenças orgânicas/físicas. O ser humano é muito complexo, pois apresenta uma subjetividade. O que é isso? A subjetividade de alguém diz respeito ao espaço íntimo daquela pessoa, que é resultado de marcas singulares de sua história que influenciaram na formação da sua personalidade, que define como essa pessoa interage e age no mundo. E é com isso que a psicologia trabalha! Desta maneira, a psicoterapia, independente da sua abordagem ou modalidade, é um processo que demanda tempo e investimento, sendo esse financeiro e emocional!

Quando a pessoa recorre à psicoterapia, deve estar implicada com ela, e é exatamente por isso que é impossível obrigar alguém a realizá-la. Pois esse desejo de mudança, essa implicação já faz parte do processo da psicoterapia! Ou seja, para nós psicoterapeutas a coisa mais importante no processo de psicoterapia é você! Isso pode ter te deixado surpreso, mas como disse no início desta nossa conversa, psicoterapia não é só técnica, mas o trabalho de construir uma relação terapêutica genuína.

Bom, estamos chegando ao final de nossa conversa e talvez você esteja se pensando: ok, mas como eu inicio a psicoterapia? Para responder a essa pergunta te convido para o nosso último tópico.

5. Como faço para encontrar o profissional de psicologia? Todo psicólogo é psicoterapeuta?

Há muitas maneiras de se encontrar um psicoterapeuta! Geralmente as procuras funcionam por indicação, através de um médico ou outro profissional, ou quem sabe um amigo ou familiar que já faz psicoterapia ou que conhece um psicólogo possa te ajudar! Através de páginas de redes sociais, ou até mesmo ligando no Conselho Regional de Psicologia da sua região e perguntando sobre os possíveis psicólogos cadastrados que realizam esse tipo de atendimento.

Também existem as clínicas-escolas dos cursos de psicologia das universidades que disponibilizam atendimentos gratuitos ou com menores preços à comunidade. Há também os atendimentos disponibilizados pelo SUS através dos psicólogos das redes de saúde e assistência social, como os CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), entre outros. 

Bom, chegamos ao fim do nosso texto, dessa nossa conversa, a qual imagino que tenha embarcado repleto de dúvidas, não é mesmo? Possivelmente você tenha chegado a este texto porque não sabe o que fazer e como pode agir depois de ter recebido uma indicação para iniciar uma psicoterapia. Talvez você não fizesse ou ainda não faça a menor ideia de como a psicoterapia pode te ajudar exatamente! E não há problema nenhum nisso! Sabe por quê? Porque talvez a maior questão não seja bem essa, e sim esse seu medo, esse seu receio, essa sua vergonha. No entanto, eu te faço essa pergunta final: vergonha de quê?

Espero que esse texto tenha ajudado e, se de alguma maneira você se identificou em alguns desses pontos, não se deixe ser guiado pelo medo, mitos ou preconceitos, e invista em você!

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