Você sabe do que estamos falando quando debatemos saúde mental? 

Atualmente é muito comum o uso desse termo, mas nem sempre temos ciência do que realmente se trata o conceito de saúde mental. Não há uma definição oficial sobre esse conceito, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) “saúde mental seria um equilíbrio emocional entre o patrimônio interno e as exigências externas, um bem estar consigo mesmo e com os outros”. 

Essa definição além de ser extremamente vaga, traz a ideia de uma posição estável, sem oscilações e/ou desvios, o que não caracteriza a maior parte das vivências das pessoas. 

Em nossa sociedade atual, a lógica da produção 24h por dia invadiu nossas casas, nossos corpos e nosso cotidiano, criando uma racionalidade de corpo/máquina. Aquele que não dá conta desse imperativo precisa ser consertado ou então descartado. 

Essa lógica perversa e violenta é internalizada pelos sujeitos que passam a ser vigilantes de si mesmo – “eu deveria estar fazendo mais”; “não é o suficiente”! 

Como alternativa a esse sofrimento e sentimento de inadequação e falta é vendido diversas sugestões e orientações de como cuidar da sua saúde mental. Como se esse cuidado fosse algo individual, descontextualizado e a-histórico. Vivemos tempos de prescrições farmacológicas desenfreadas que vendem a ideia de eliminar o sofrimento. O diagnóstico aparece com uma função de etiquetamento do paciente, reforçando um estigma carregado por ele.

A experiência da “loucura” e do sofrimento humano no mundo ocidental se mostrou diferente a cada momento histórico, até ter sido confiscado no conceito de “doença ou transtorno mental” pela psiquiatria. A “doença mental”,  mais do que uma nosografia (descrição ou explicação das doenças) descoberta, é uma entidade produzida por meio dos discursos e dispositivos presentes no campo social. 

O discurso do sujeito em sofrimento passa a ser traduzido em presença e ausência de sintomas identificados por um especialista (médicos, psiquiatras, psicólogos…). Porém esses sintomas, em geral, são aspectos que entram em conflito com certos padrões sociais e ideais calcados em valores de gênero, raça, classe, idade, sexualidade etc. A “doença/transtorno mental”  é uma produção atravessada por marcadores de gênero, raça e classe. 

A maioria do tratamentos trata-se apenas de um conjunto de técnicas de adaptação do sujeito à normativa capitalista, branca e heteronormativa. Não consegue focar no trabalho? tome um remédio! Não consegue sentir libido ou interesse sexual? tome um diagnóstico e um remédio!  

É preciso denunciar as condições que afetam o sujeito e o levam ao sofrimento. Claro que podemos pensar em estratégias que minimizem o sofrimento. Mas não se pode perder de vista o papel político disso. A medicalização é um processo de patologização da diferença ao que é estabelecido, fabricado e vendido como norma! 

Não é possível individualizar, padronizar e homogeneizar as estratégias de cuidado em saúde mental, além disso é muito pouco pensar em como minimizar os impactos psicológicos, apesar de ser também necessário. É preciso evidenciar e denunciar os mecanismos de colonização dos sujeitos, propor novos modos de sociabilidade, evidenciar os mecanismos regulatórios e as relações de poder que estão na base dos sofrimentos humanos. 

É preciso entender que cuidado em saúde mental não pode ser tentativas de normalização do sujeito amparados em discursos de buscar uma vida saudável e de completo bem estar. É preciso repolitizar a saúde mental!

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